Na minha terra havia uma figura que dava pelo nome de João Grilo, que um dia pegou no cajado de marmeleiro e foi á procura do amigo Jorge para lhe dar uma valente surra, e foi dizendo a quem por ele passava; agora é que ele vai ver como elas lhe mordem, chegado junto do amigo Jorge, ele, tirou-lhe o cajado da mão e deu-lhe com ele nos lombos e na cabeça, quando o ti João Grilo voltou a passar junto dos transeuntes que o tinham visto com o cajado, que continuava a transportar às costas, desta vez de regresso a casa, e com a cabeça rachada, foi dizendo á laia de vitória, pronto já está…
Têm sido assim os comportamentos, no mínimo esquisitos, digo eu, dos diferentes Ministros da Agricultura deste País que numa troca de conceitos e vocabulário vão transformando as sucessivas derrotas em vitórias, desde 1992 que assim tem sido, de trambolhão em trambolhão até ao estado miserável e suicida em que deixaram a nossa agricultura, e até a nossa segurança alimentar, com um défice no sector de cerca 3.7 mil milhões de euros.
Sabemos por experiência própria, e a nossas custas que a lotaria dos dinheiros da PAC sai sempre aos mesmos de sempre, porque as regras, essas, mantêm-se as mesmas desde sempre, porque os interesses dos 2 mil que mais comem com o desligamento das ajudas da produção e que mais terra têm neste País, (por isso aí vem o sequestro do carbono e o greening e outros que inventarão certamente, para substituir o já muito criticado RPU), se têm sempre sobreposto aos dos restantes 300.000 que vivem do que a terra, às vezes pouca demais, mas que exploram, lhes dá, e é muitas vezes muito pouco.
E mesmo com este agarrem-me senão eu bato-lhes, ou eles a mim, da parte do Parlamento Europeu, com relator Português e tudo, não será difícil de adivinhar que de cedência em cedência acabarão por aprovar este orçamento agrícola para a Europa, nem que seja com a promessa de revisão intercalar em 2017, ao estilo, empurrar problemas com a barriga para a frente, ou talvez mesmo por isso, essa promessa tenha servido já esse intuito, facilitando o trabalho de pseudo-negociação, que vai decorrendo por via do mesmo relator Português, bom, mas isso certamente veremos mais á frente de que cor será este fumo, mas certamente continuará negro.
Certo, por agora temos, que no segundo pilar, o do Desenvolvimento Rural, e na prática, vemos voar cerca de 1.000 milhões de euros, mesmo com o tal cheque adicional de 500 milhões acenado como vitória pelo Governo, ou talvez para isso mesmo, acenar-nos com ele, mas mesmo dando de barato esses 500 milhões, o défice ainda ficaria em 500 milhões, mas como a componente nacional diminui cerca de 250 milhões, com mais cerca de 250 milhões por via da diminuição da taxa de co-financiamento, por via de estarmos intervencionados pelas troikas, e que pelos vistos se vai manter, cá estão os 1.000 milhões que nos irão rapinar, bom, mas se juntarmos a isso mais 350 milhões que o amigo dos agricultores, de alguns… digo eu, Paulo Portas, ameaça deslocar do 2º para o 1º pilar, (ajudas directas), a coisa complica-se ainda mais, mas mais complicada fica, se do 2º pilar saírem ainda os seguros agrícolas.Por isso sugiro ao Relator Português, Capoulas Santos, agora transformado em negociador pelo Parlamento Europeu, que volte a Portugal, e que olhe com os olhos de ver, que imagino que tenha, e que admita que o que tem que negociar com os Ministros Europeus da Agricultura, em salvaguarda dos interesses dos agricultores Portugueses e dos próprios consumidores, é:
Desde logo não permitir qualquer corte nas verbas para o nosso País, tudo o que for abaixo disso é derrota…não transformável em vitória, sim, porque, essa de que se não fosse eu era pior, não nos serve de consolo.
Produzir para alimentar este povo, mesmo aqueles cujos rendimentos já não o permitem pagar, é o nosso objectivo.
E para isso é no mínimo preciso:
Plafonar e modular as ajudas com seriedade, de modo a gerar receitas para os que menos recebem e mais emprego criam neste País, os pequenos e médios agricultores, rendeiros e seareiros, permitindo que possam continuar a investir e desenvolver as suas explorações, nomeadamente nas áreas do tomate, arroz e leite.
Impor a igualdade entre agricultores e entre Países de imediato.
Mas se quer fazer mesmo uma proposta a sério e a que chamo revolucionária e que sirva os interesses do País, experimente propor que as ajudas sejam só e apenas indexadas á produção efectiva, ou seja como por cá dizemos “na casa deste homem os que não trabalham não comem” e veremos que com preços justos às produções, o emprego e produção aumentarão quase de imediato, pense nisso caro amigo relator/negociador…
E já agora, e para antecipar uma hipotética resposta da sua parte, de que a Europa o não permite, digo-lhe, com toda a certeza que não foi nenhum Deus que o proibiu, foram homens, e por sinal, muito palermas ou muito sacanas, e eu é na última que aposto, por isso, homens
sérios podem muito bem alterar a proibição, como penso que quer ficar do lado dos homens sérios, não tenha medo das propostas e prove na prática o seu patriotismo… E assim, talvez os agricultores Portugueses lhe agradeçam e lhe perdoem o facto de um dia também ter transformado derrotas em vitórias… aqui na princesa do Alentejo…lembra-se não lembra?
Por Joaquim Manuel Lopes – (Direcção Nacional da CNA)
Abril de 2013
ESCRITO A 3 DE JUNHO DE 2013